terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Trocando a bateria

Outro dia, como de costume, levantei-me cedo e comecei a traçar o roteiro do que pretendia fazer. Era um sábado. Como não precisei ir ao curso de inglês, dei-me ao luxo de ter a manhã só para mim. Pensei em pedalar, visitar um museu ou, simplesmente, olhar vitrines. Decidi pedalar. Arrumei a bicicleta, peguei minhas coisas, garrafa d'água, relógio e percebi que este estava parado. Relógio que atrasa não adianta, muito menos um que esteja parado...

Imediatamente detectei o problema: a bateria estava esgotada. Lembrei-me de que na esquina do quarteirão onde moro havia um camelô que trocava baterias e fazia pequenos consertos. Desci e fui dar nova vida ao meu watch. Desculpe-me pelo estrangeirismo, mas preciso gastar o inglês.

Chegando ao estabelecimento do rapaz, apresentei meu problema:

– A bateria do relógio acabou e eu preciso que você ponha uma nova. Quanto custa?

– Olha, a original ‘tá saindo a cinco reais e a outra sai por quatro.

Essa foi a resposta que recebi do rapaz após minuciosa inspeção na peça. Particularmente, desconhecia a existência de bateria original ou similar. Para mim, só existia um tipo. Após alguns segundos, com um sentimento de impotência, pensando que algum dia deva ter comprado uma similar pelo mesmo valor da original, fiz a pergunta que mais me intrigava naquele momento.

– E qual é a diferença?

– Um real.

Não sei se senti raiva, ódio ou coisa parecida, só sei que não foi nada bom. Preferi acreditar que o rapaz não havia compreendido o teor da minha pergunta e, dessa forma, respondeu-me o óbvio. Apesar de sempre ter levado bomba nas provas de matemática, ainda me lembro de que cinco menos quatro é um.

Minha cabeça ficou ainda mais confusa e, por medo de não ouvir uma resposta satisfatória para outras dúvidas que surgiram, preferi guardá-las para mim. Será que, na opinião dele, eu não sabia fazer aquela dificílima conta? Será que demonstrei total incapacidade intelectual para compreender as especificações técnicas que faziam da bateria original um produto indubitavelmente melhor e, por isso, mais caro? Ou será que, por ser uma pessoa com altíssimo raciocínio lógico-matemático, o rapaz associou minha pergunta com o resultado da operação fundamental que tem por nome subtração?

De qualquer forma, a manhã de sábado prometia. Não podia ficar parado ali, precisava agir. Sem pensar no prejuízo que poderia ter, fui curto e grosso. Fiz cara de quem conhece todas as outras diferenças entre uma e outra, além da monetária, e pedi a bateria original.

Para minha felicidade, o problema foi resolvido. Pus o relógio no pulso e dividi bem meu fim de semana, fazendo tudo que havia planejado. Não sei se por sorte do rapaz ou pela incontestável qualidade das baterias originais, mas, até o presente momento, meu relógio funciona.

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