quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Planejamento do Ensino em uma Perspectiva Crítica de Educação

O texto Planejamento do Ensino numa Perspectiva Crítica de Educação, escrito por Antonia Osima Lopes*, aborda o processo de planejamento de ensino na prática pedagógica atual e questiona a eficácia dele como instrumento que ajuda o professor a melhorar sua prática docente.

Baseada em sua experiência no cotidiano escolar, a autora afirma que os objetivos propostos pelas instituições de ensino são pouco claros e dissociados da realidade social dos alunos. Além disso, observa que os conteúdos definidos são autoritários, considerando que dificilmente professores e alunos fazem parte desse processo.

Antonia Lopes salienta que normalmente, nas salas de aula, há predominância de atividades que abrem pouco ou nenhum espaço para a participação dos alunos, ignorando a criatividade, que é fundamental para a reconstrução do conhecimento. Em ambientes como esse, a avaliação não passa de um processo que visa a avaliar quanto o aluno aprendeu e não o que ou como ele aprendeu. Um planejamento alijado da realidade social transfigura-se em atividade automática e burocracial do corpo docente, que em nada contribui para o aperfeiçoamento da prática pedagógica.

Em uma concepção transformadora, o planejamento escolar deve assumir uma postura crítica em relação à educação, evitando a produção de um documento de caráter meramente tecnicista. Freire (2009, p. 38) afirma que “A prática docente crítica, implicante do pensar certo, envolve o movimento dinâmico, dialético, entre o fazer e o pensar sobre o fazer”.

Diante disso, vê-se que o processo de planejamento de ensino deve ser reformulado, de forma que se tenha uma ação pedagógica crítica e transformadora. Assim, o professor terá maior segurança para lidar com as dificuldades da sala de aula e definirá o que é essencial do que é secundário na relação ensino-aprendizagem.

A escola é o local em que se oferecem os conhecimentos acumulados ao longo do tempo, mas não se deve ignorar o conhecimento extraclasse ou acreditar que os conhecimentos acumulados são imutáveis. Se por um lado o aluno precisa conhecer a cultura acumulada, por outro, deve ter condição de produzir novos saberes, valorizando a dinamicidade do conhecimento.

Como alternativa para se reverter o quadro exposto acima, a autora sugere que as atividades educativas deveriam ser desenvolvidas a partir da realidade e das necessidades dos alunos. Assim seria possível tornar a sociedade mais justa, oferecendo aos indivíduos o conhecimento de que eles precisam realmente e exercitando o papel transformador da educação.

De fato, um planejamento escolar efetivamente participativo depende da integração entre escola e realidade, teoria e prática, visto que não deveriam existir planejamentos sem a participação dos envolvidos em todo o processo educacional. Essa integração deveria começar com o estudo real da escola com o contexto social em que ela se insere. Na verdade, conhecer o aluno é a melhor maneira de customizar o ensino oferecido.

Depois de diagnosticar interesses e necessidades do aluno, devem-se definir os objetivos, sistematizar os conteúdos e selecionar os procedimentos que serão aplicados. O ensino eficaz faz mais que transferir conhecimento. Valoriza a transformação do educando, de forma que este possa refletir criticamente, exercitando a criatividade, o espírito investigativo e a criatividade – atividades fundamentais para a vida em sociedade.

Em um terceiro momento, o professor deve articular uma metodologia de ensino que valorize a participação e a reflexão dos alunos. Nesse contexto, o mestre não deve se preocupar com a quantidade de conteúdo aprendido, mas com a qualidade da reestruturação e produção de conhecimento de cada um. Ressalta-se que essas etapas não devem ser vistas isoladamente, mas como partes interligadas de um planejamento integrador.

O texto resenhado mostra que o professor deve assumir uma postura pedagógica e social, para que se adapte às demandas atuais. Além disso, o planejamento participativo exige que não haja divisão de trabalho pedagógico, ou seja, todos devem se sentir responsáveis por todo o processo educativo, cada um contribuindo conforme suas possibilidades.

Conclui-se que a visão de planejamento escolar apresentada no texto em questão não pode ser entendida como uma atividade neutra. Portanto, o professor deve priorizar a transformação e o exercício da criticidade do aluno, e o planejamento ideal não deve ser feito isoladamente, mas com a participação de todos, inclusive do aluno. Essas podem não ser tarefas fáceis, mas são necessárias, caso se queira elevar a qualidade do ensino e fazer dos alunos pessoas críticas e capazes de construir e reconstruir o mundo em que vive.


* Professora da Universidade Federal do Piauí (UFPI) e mestre em Educação pela UNICAMP.

Bibliografia

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 2009.
LOPES, Antonia Osima [et al.]. Planejamento do ensino numa perspectiva crítica de educação. Campinas, SP: Papirus, 1989.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Outro dia disse que iria passar, mas ainda não passou

Ontem te tive por perto e pensei que eras minha. Por isso não te dediquei a atenção que merecias e te tratei como se fosses sempre estar ao meu redor. Via todos os teus sorrisos, todas as tuas qualidades, mas emudecia e não conseguia pronunciar palavra alguma. Teu sorriso, olhar e presença me faziam emudecer ou falar de qualquer coisa que não fosse tu. Talvez não me sentisse merecedor de ti. Tive medo de não ser bem o que eu pensava, mas bem queria que fosse.

Hoje não te tenho por perto, mas talvez estejas mais perto do que nunca, porque a lembrança do que poderia ter sido é sempre mais forte. Acordo, planejo, convido, preparo-me, espero. Espero ganhar tua confiança, conhecer-te (melhor), ser tudo o que mereces que alguém seja para ti. Tenho esperança que nos façamos bem.

Amanhã olharei para trás e verei quanto tempo perdi em deixar-te um pouco lado. Tentarei aproveitar o tempo fazendo-te sorrir mais, sorrir melhor, com a alma. Teu coração puro me fará ver o mundo sob nova ótica e nossos sorrisos se unirão pelo tempo em que nossos sentimentos forem recíprocos.

sábado, 19 de março de 2011

Breve Histórico da Sociolinguística

A Sociolinguística, como campo de estudo ou disciplina em si, é algo recente. Provavelmente, o interesse pelos aspectos sociais da linguagem e a interseção entre linguagem e sociedade exista desde o começo da humanidade, porém seu estudo formal e organizado é datado no final do século XX.

Nessa época, produziram-se muitos trabalhos com o objetivo de entender as relações entre os traços linguísticos e sociais em diferentes comunidades nos Estados Unidos e na Europa, porém aqui se enfocarão as contribuições de Willian Labov* para as pesquisas entre o linguístico e o social, visto que a partir delas estabeleceu-se um novo paradigma de investigação na área.

A interferência da língua na sociedade e vice-versa não é tão óbvia quanto possa parecer, haja vista que, “[...] segundo Chomsky (1965), o objetivo dos estudos linguísticos é a competência linguística do falante-ouvinte ideal, pertencente a uma comunidade linguisticamente homogênea” (TARALLO, 2003, p. 06). Essa afirmação pode ser questionada quando se nota que em cada contexto de fala a língua se mostra heterogênea e diversificada. É essa mesma situação heterogênea que deveria ser submetida à sistematização.

Ao partir da constatação da heterogeneidade e da ampla diversificação da língua falada, Labov inicia seu trabalho, com o intuito de comprovar relações entre traços linguísticos e sociais no real desempenho linguístico dos falantes nas comunidades socioculturais. Ele acreditava que as variações pelas quais uma língua passa não são capazes de impedir a comunicação entre falantes que compartilham do mesmo sistema. Assim, percebeu que o caráter heterogêneo faz parte da estrutura e, por isso, poderia ser submetido à sistematização(CHIAVEGATTO, 1999, p. 48).

Labov desenvolveu suas pesquisas a partir da hipótese de que em meio a um caos aparente, demonstrado pela diversidade nas línguas, existiriam regularidades que deveriam ser encontradas. Seu intento era comprovar a hipótese geral de que existiriam razões sociais que condicionam a ocorrência das variações na língua, tanto nos distintos grupos socioculturais que há no interior das comunidades, como nos casos de interação que permitem suas atualizações.

Dentre os vários e significativos resultados que os estudos sociolinguísticos conseguiram, destaca-se a possibilidade de comprovação de que a heterogeneidade linguística é marca essencial das línguas naturais. Dessa forma, percebe-se que as comunidades humanas utilizam simultaneamente variações nos diversos níveis de linguagem. Entretanto, ressalta-se que essas variações não ocorrem ao acaso. Elas dependem de fatores socioculturais e subdividem a língua de acordo com as diferentes faixas etárias, religiões, profissões, classes sociais, anos de estudo e até mesmo gênero sexual.

Visto isso, entende-se que a língua usada por uma comunidade é um conjunto de variações condicionadas pela própria sociedade, sobre as quais recai juízo de valor. É por isso que há variedades linguísticas prestigiadas, estigmatizadas ou neutras. Apesar disso, os falantes de cada uma dessas variações pode se movimentar de uma variedade desprestigiada para uma mais prestigiada, de acordo com seus interesses de pertencer a um novo grupo social ou pela simples adaptação de sua fala a dado contexto social. Com isso, nota-se que a maneira como um indivíduo fala pode associá-lo a certos segmentos da sociedade e mostrar seu grau de identificação com um grupo.

O conhecimento linguístico, que é transmitido pelas gerações ao longo do tempo, é um tipo de aprendizado que se dá informalmente, na maioria das vezes. As crianças aprendem com seus pais e familiares as construções basilares da língua em um primeiro momento, e, em seguida, começam a entender regras de constituição de sentenças e de construção de palavras. Esse conhecimento acontece predominantemente de maneira assistemática, pelo contato com outros falantes da língua.

A aquisição da linguagem não se dá geneticamente, mas a capacidade fisiológica e neurológica da fala sim. As línguas são adquiridas ao longo das interações socioculturais e a transmissão dessa linguagem ao longo das gerações sucessivas é o que gera as mudanças linguísticas. Prova disso é que, caso um grupo seja separado geograficamente, as muitas variações podem chegar ao ponto de tornar a comunicação impossível. Quando as mudanças acontecem em uma mesma área geográfica, as variações desenvolvem identidades socioculturais que se associam aos traços linguísticos já existentes.

Conclui-se que a linguagem tem o poder de alterar o progresso da humanidade, considerando que se podem transmitir os conhecimentos e as experiências adquiridas por meio da linguagem, que tem como um de seus atributos a função de transmitir a cultura desenvolvida no interior de uma sociedade. Espera-se que este trabalho tenha apresentado, ainda que minimamente, a relação e interferência mútua entre língua e sociedade.

*O modelo teórico-metodológico de Labov ficou conhecido como Sociolinguística Quantitativa, que, apesar de considerar os aspectos socioculturais para suas análises, tem em foco a língua, buscando sistematizar, por meio de mecanismos científicos, o que antes foi considerado desvio, erro ou corrupção da língua. Por outro lado, há também a Sociolinguística Qualitativa, cujo enfoque não está na língua como sistema, mas na relação dos sujeitos com a linguagem.


Bibliografia

CHIAVEGATTO, Valéria Coelho. Linguagem, Sociedade e Cultura. In: CARNEIRO, Marísia (org.). Pistas e Travessias. Rio de Janeiro: EdUERJ, 1999, p. 29-61.

TARALLO, F. A relação entre língua e sociedade. In: A pesquisa sócio-linguística. São Paulo: Ática. 2003.

Visão Geral da Linguística de Corpus

Resumo

O primeiro corpus linguístico eletrônico foi lançado em 1964. Nessa época em que a informatização de textos era difícil e a ideia de gastar tempo e recursos com a coleta de registros linguísticos era vista com incredulidade, o Brown University Corpus of Present-day American English possuía um milhão de palavras.

Sete anos antes, Noam Chomsky lançara Syntatic structures e contribuiu para mudanças de paradigma na linguística. Com base nessa publicação, os dados necessários para o linguísta estavam em sua mente e seriam acessíveis por introspecção. A coleta de dados de terceiros não seria necessária, pois serviriam apenas para o estudo do desempenho, quando todos sabiam que o interesse era a investigação da competência linguística. Dessa forma, vê-se que o corpus de Brown surgiu em uma época em que se duvidava de seu mérito.

Além de ratificar a importância do corpus de Brown como propulsor do desenvolvimento da Linguística de Corpus (LC), o objetivo do primeiro capítulo do livro Linguística de Corpus, de Tony Berber Sardinha, é fazer uma retrospectiva da LC e discutir questões teóricas e práticas relacionadas a ela. Como o maior desenvolvimento se deu em relação ao inglês, o texto é dedicado, predominantemente, a essa língua.

A LC agrupa e explora os corpora – grupos de dados linguísticos textuais coletados criteriosamente, que servem na pesquisa de uma língua ou variedade linguística. Também explora a linguagem por meio de evidências baseadas na experiência, conseguidas com o auxílio do computador. Sabe-se, porém, que antes deste já existiam corpora. Na Grécia Antiga, Alexandre, o Grande, definiu o Corpus Helenístico. Na Antiguidade e na Idade Média, também eram produzidos corpora de citações bíblicas.

Os corpora eram coletados e analisados manualmente, e a ênfase geral deles era o ensino da língua. Hoje o que predomina na literatura é a descrição de linguagem e não a pedagogia, apesar de haver algumas aplicações recentes dos corpora na sala de aula e na investigação da linguagem de alunos de língua.

Um corpus não-computadorizado, o Survey of English Usage, planejado para um milhão de palavras, serviu de referência para outros, inclusive o de Brown. A composição do corpus influenciou a fixação do número de textos e quantidade igual de palavras para cada texto. O Survey foi organizado em fichas de papel e as palavras foram analisadas gramaticalmente. O conjunto de categorias resultante serviu de base para o desenvolvimento dos etiquetadores computadorizados da atualidade. Sua transformação completa em corpus eletrônico se deu em 1989.

O Syntactic structures, de Chomsky, por sua vez, surgiu com uma mudança de paradigma na linguística. Deixou-se para trás o empirismo e a sustentação dos trabalhos baseados em corpora, dando lugar para as teorias racionalistas da linguagem, a linguística gerativista. Houve muitas críticas ao processamento manual de corpora gigantescos. Dizia-se que não eram confiáveis porque os humanos não eram feitos para tarefas desse tipo. As grandes equipes existentes para essas tarefas aumentavam a chance de erro e as inconsistências. Faltava um instrumento que analisasse os corpora de modo confiável.

Em vista disso, nos anos 1960, computadores mainframe equiparam centros de pesquisa universitários e foram aproveitados em pesquisa de linguagem. Seu uso permitiu a consecução de tarefas mais complexas de forma mais eficiente, visto que a capacidade de armazenamento e as novas mídias facilitaram a criação e manutenção de mais corpora.

Hoje a LC tem grande influência na pesquisa linguística. Os grandes centros de pesquisa se encontram na Grã-Bretanha, nos países escandinavos e nos Estados Unidos, com presença mais modesta, devido ao conflito entre a linguística gerativo-transformacional e a LC, entre outros fatores. Entretanto, há nos EUA um alto grau de desenvolvimento na pesquisa em Processamento de Linguagem Natural, que tem laços com a Ciência da Computação, que, apesar de ter temas em comum com a LC, mantêm-se independentes. Entretanto, no Brasil, a LC está em seu estágio inicial.

Observa-se que a LC também ganha espaço no âmbito empresarial. Há parcerias entre universidades e empresas, como as de telecomunicações, que utilizam pesquisas baseadas em corpus com várias finalidades comerciais. Considerando a finalidade deste resumo, suprimiram-se as seções que tratam de corpora de outras línguas além do português.

Há vários corpora eletrônicos de destaque em língua portuguesa, como o Banco de Português (233 milhões de palavras), da PUC/SP; o Corpus de Extractos de Textos Electrônicos (229 milhões de palavras), do Projeto Linguateca; e o Corpus do Português Brasileiro Contemporâneo (100 milhões de palavras), da UNESP Araraquara, por exemplo.

A pesquisa com corpora eletrônicos de português data dos anos 1960, em Portugal, sendo o Centro de Linguística da Universidade de Lisboa um dos pioneiros. Nota-se ainda que há projetos de criação e informatização de corpora em várias regiões do Brasil, porém o grau de informatização ainda não é o ideal, concluindo-se que o corpus de língua escrita e falada ainda não foi concretizado.

Define-se corpus como um conjunto de dados linguísticos, sistematizados segundo critérios, suficientemente extensos em amplitude e profundidade, de maneira que sejam representativos da totalidade do uso linguístico ou de algum de seus âmbitos, dispostos de forma que possam ser processados por computador, com a finalidade de propiciar vários resultados, úteis para descrição e análise.

Tal definição é importante porque menciona a origem, o propósito, a composição, a formatação, a representatividade e a extensão. Assim, entende-se que: o corpus deve ser composto de textos autênticos, em linguagem natural; a autenticidade dos textos subentende textos produzidos por falantes nativos; o conteúdo do corpus deve ser colhido criteriosamente; e o corpus deve ser representativo para uma variedade linguística ou para o idioma.

Pelo fato de a nomenclatura que define o conteúdo e o propósito na LC ser extensa, serão apresentados apenas os principais tipos citados na literatura, segundo critérios próprios: modo, tempo, seleção, conteúdo, autoria, disposição interna e finalidade. Essa classificação também pode ser feita por meio de perguntas criadas a partir da pluralidade de autoria, da origem da autoria, do meio, da integralidade, da especificidade, do dialeto, do equilíbrio, do fechamento, da renovação, da temporalidade, da tradução e da intercalação.

Para ser representativo, um corpus deve ser o maior possível. Haja vista que quanto maior a quantidade de palavras, maior a probabilidade de aparecerem as de baixa frequência. Além disso, será possível encontrar diversos sentidos para uma mesma palavra, de acordo com o contexto. Não se pode estabelecer um tamanho ideal de corpus, visto que é uma amostra de uma população cuja dimensão se desconhece. Dessa forma, percebe-se que são os usuários de um corpus que lhe atribuem a representatividade de certa variedade.

Apesar de ser um critério importante para a representatividade, pouco se pesquisou sobre a definição de critérios mínimos para a extensão de um corpus. Entretanto, sabe-se que sua extensão comporta três dimensões: o número de palavras, o número de textos e o número de gêneros estudados. Igualmente, podem-se definir três abordagens: impressionística, histórica e estatística. A primeira está relacionada ao número de palavras; a segunda, à monitoração dos corpora realmente usados pela comunidade; e o terceiro, à aplicação de teorias estatísticas.

Ressalta-se que há oposição de ideias entre os empiristas (hallidianos) e os racionalistas (chomskyanos) da linguagem. Os primeiros veem a linguagem como probabilidade; e os segundos, como possibilidade. As diferenças estão relacionadas ao foco no desempenho linguístico no lugar da competência, no foco na descrição linguística e no foco em uma visão mais empirista do que racionalista.

Afirma-se haver muitos trabalhos enquadrados na LC, que compartilham características como o empirismo e a análise de padrões de uso em textos naturais; o uso de corpus e computadores; e a dependência de técnicas qualitativas e quantitativas. Suas principais áreas de pesquisa concentram a compilação de corpus, o desenvolvimento de ferramentas, a descrição da linguagem e a aplicação de corpora, sendo a descrição a área mais ativa.

Os padrões de linguagem podem ser resumidos em três conceitos principais: a colocação (textual, psicológica ou estatística), que é a associação entre itens lexicais ou entre o léxico e campos semânticos; a coligação, que é a associação entre itens lexicais e gramaticais; e a prosódia semântica, que é a associação entre itens lexicais e conotação ou instância avaliativa.

Esse capítulo apresenta um painel da LC. Observa-se, porém, que há duas dificuldades para se retratar esse campo: a quantidade de trabalhos novos que surgem e a visão de que ela se trata de uma contabilidade linguística, por isso há que se explicitar o quadro teórico que lhe dá coerência e sustentação.

Conclui-se que o crescimento e a força da LC se manterá à proporção que os pesquisadores percebam no corpus uma fonte inestimável de informação. Logo, estudantes, linguistas e demais pesquisadores verão que nenhum corpus contém toda a informação necessária, mas todo corpus ensina coisas sobre a linguagem que não podem ser descobertas sem ele.


SARDINHA, Tony Berber. Linguística de Corpus. São Paulo: Manole, 2004.

quinta-feira, 3 de março de 2011

Um NÃO ao xixi na rua e à camisinha no bolso. Como disse o Velho Guerreiro, o lugar dela é no pescoço!

Hoje acordei disposto e, apesar da chuva, fiz minha caminhada matinal. Como gosto de ouvir música ou as notícias do dia enquanto me exercito, peguei o celular (que também é rádio, filmadora, câmera fotográfica, peso para papel, etc.) e saí em busca de alguns dos dez mil passos diários sugeridos pelos estudos mais recentes.

Comecei a pular de estação em estação, e parei na rádio Globo, para ouvir um pouco de informação sem a seriedade da CBN. Ressalto que gosto desta emissora, mas a aproximação do carnaval não nos deixa pensar em nada muito sério. Meu objetivo era me exercitar e relaxar, não necessariamente nessa ordem.

Os dias que antecedem a festa de Momo fizeram com que a rádio Globo reproduzisse algumas das marchinhas eternizadas na lembrança do carioca. A de hoje, veiculada por volta das nove horas, foi gravada pelo Chacrinha no final dos anos 1980, quando a AIDS começou a tirar o brilho das fantasias de carnaval.

Nela se ouvia o Velho Guerreiro, acompanhado de suas chacretes e banda, dar um sábio e atual conselho: “Bota camisinha / Bota meu amor / Que hoje tá chovendo / Não vai fazer calor / Bota a camisinha no pescoço / Bota geral / Não quero ver ninguém / Sem camisinha / Pra não se machucar / No Carnaval”. Essa marchinha cheia de duplo sentido foi uma das formas de educar o povo sexualmente diante dessa nova realidade, tanto no rádio como na televisão. Lá se vão quase duas décadas e todo fevereiro-março faz sucesso na boca do povo. Agora você vai entender onde entra (mas não deveria) o xixi nessa história.

A televisão tem divulgado comerciais alertando a população, principalmente os marmanjos, a não urinar nas ruas nesses dias de folia. Além dos comerciais na TV, há anúncios no rádio e cartazes espalhados em lugares de grande concentração de foliões. Isso é correto, visto que a cidade que abrigará a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016 deve saber, pelo menos, dar um fim ao xixi que escorre pelas ruas quando acontece qualquer comemoração.

Para que isso se resolva, é necessária uma operação conjunta entre a prefeitura e a população. A primeira, ainda que com ajuda da iniciativa privada, deve colocar um número suficiente de banheiros químicos, bem localizados e devidamente higienizados. A segunda deve entender que o poder público não consegue tomar conta de tudo sozinho, por isso, deve ter consciência de sua responsabilidade socioambiental.

Parte de minha revolta está relacionada à repulsa que senti quando, durante a caminhada, vi um vira-lata sair mastigando alguma coisa de um banheiro químico instalado perto dos Arcos da Lapa. Fiquei minutos tentando não imaginar o que poderia ter sido, mas sei que não era Pedigree Champ. Se a prefeitura não providenciar a limpeza, o cãozinho vai voltar lá na hora do almoço... Ai, credo.

Bem, apesar de a AIDS continuar sendo um problema de saúde pública, sua prevenção não está sendo bem divulgada como em outros carnavais. Estão se preocupando mais com o xixi nos postes, árvores, paredes e algumas bancas de jornal quase podres por aí e com o consumo excessivo de álcool associado à direção.

De tudo um pouco, nada de excesso. A mídia deveria fazer campanhas de prevenção contra tudo o que oferece risco à sociedade, mas sem dar preferência a um tema exageradamente. A cada ano escolhem um mote e ficam martelando naquilo em datas específicas. Daí o povo pensa que o problema combatido no ano anterior já foi resolvido.

A melhor solução seria beber pouco, voltar para casa de táxi ou de carona com alguém que não tenha bebido. Bebendo pouco, a pessoa vai urinar pouco e, quando der vontade, vai conseguir chegar ao banheiro químico mais próximo (caso haja). Em relação à camisinha, o lugar dela é no pescoço, antes, durante ou depois das fantasias.

Acabei dando quase treze mil passos, só pela manhã. Espero que nossa cidade dê muitos outros a cada manhã ensolarada que traz a esperança de quem está aos pés do Cristo. Pela saúde, pelas ruas mais limpas e pela memória/esperança de bons carnavais, façamos nossa parte.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

La felicidad no llegó, siempre estuvo acá

Ayer por la mañana me desperté a toda prisa. Me dijeron que ella estaría cerca de la vecindad en que vivo. Rápidamente salí de la cama, tomé el desayuno y lavé los dientes. No peiné los pelos porque casi no los tengo, soy calvo hace unos diez años. Vestí la ropa y cogí lo necesario para un encuentro con la tan soñada Felicidad.

Caminé para acostumbrarme con la nueva realidad. Puse las gafas para verla distante, pero aún no la conocía bien. Después de mucho procurarla, llegué al hogar especificado. Pensaba que la encontraría, pero no estaba allá también. Volví a la casa y me puse a dormir para olvidar de la desaparición de la Felicidad por los caminos de la vida.

Hoy sé que la felicidad no está cerca de mi vecindad, ni cerca de mí, pero dentro de mi corazón. Ella no llegará mañana o en el año que viene. Ella está a nuestra disposición en el día de hoy. Mañana, otra vendrá y así sucesivamente. Cada día tiene su proprio mal o bien.

Post Scriptum: Hace tiempo que no escribo en Español, por eso ya les pido perdón por los posibles errores.

Do medo do erro à adequação vocabular

Certa vez um professor de português foi assaltado no centro do Rio e, para pedir socorro, gritou: “Peguem-no, peguem-no!”. Como nenhum dos populares sabia quem era “no”, o ladrão fugiu e sumiu no meio da multidão... Isso ilustra como o apego à norma culta pode criar ruído na comunicação. Quando alguém ensina ou aprende algo, o objetivo é atingir um padrão de excelência a que comumente se chama “o certo”. Entretanto, quando se trata de ensino-aprendizagem de uma língua, devem-se considerar as diversas situações de interação das quais o aluno faz parte.

O ensino tradicional de língua portuguesa privilegia a modalidade culta em detrimento dos demais níveis de fala. Nesse contexto, passa-se ao aluno a ilusão de que se deve escrever e falar o “bom português” em todas as relações sociais. Todavia, o português exigido é o de Camões e de Machado, cujos textos figuram em gramáticas que se dizem contemporâneas, não se sabe de quem. Por isso, o padrão erro/acerto deveria ser substituído pelo adequado/inadequado em um ensino que se proponha contextualizado.

Há alunos que dizem não gostar de escrever. Apesar disso, escreve em sites de relacionamento, deixa comentários em blogs de amigos ou tem um diário guardado. É função do professor interpretar essas informações e perceber que alguém com esse perfil gosta de escrever, mas tem medo do rigor gramatical. Deve-se cuidar para que o medo do erro não bloqueie a criatividade do aluno que precisa se expressar. Desse modo, um ensino mais atrativo deveria considerar os textos do interesse do educando, para que, depois, discutam-se os contextos sociais mais adequados.

Um parente do governador não deveria chamar Sua Excelência de Serginho no lugar de trabalho. Por outro lado, em uma festa de família, chamá-lo de Excelência soaria deboche ou ironia. Tanto o diminutivo que expressa afetividade quanto o pronome de tratamento formal fazem parte da gramática, mas não se deve esquecer o contexto e a intenção. Fala e escreve bem aquele que, de forma mais precisa, adapta seu discurso ao contexto.

Dificilmente um aluno internalizará uma construção gramatical apresentada fora de contexto, visto que o indivíduo adota para si aquilo com que se identifica. Para que a dita norma culta seja aprendida, deve-se, ainda que hipoteticamente, conduzir o estudante a uma situação em que ela faça sentido.

Dessa forma, independentemente do contexto em que alguém fale ou escreva, o produto deve transmitir de forma clara e convincente aquilo que o gênio humano pensou. Além disso, a norma culta não deve ser um instrumento de opressão que discrimina pessoas. Conclui-se que professores devem conhecer o aluno; o que escreve, se escreve; para quem escreve; e ajudá-lo a fazer isso cada vez melhor, ajudando-o a incrementar o exercício de sua cidadania.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Análise do filme Garotas do Calendário, em conformidade com o texto “Antropologia e o estudo dos grupos sociais e das categorias de idade”

Antropologia e o estudo dos grupos sociais e das categorias de idade

O texto apresenta como as etapas da vida são vistas pelos agrupamentos humanos em diferentes períodos históricos, com foco na terceira idade. Nele pode-se ver que em certas sociedades, algumas das divisões tradicionais do desenvolvimento humano, como infância, adolescência, juventude, fase adulta e velhice, simplesmente não existem. O começo e o fim de cada uma dessas categorias de idade não são estipulados apenas por fatores biológicos, mas também por fatores históricos, políticos e sociais.

Na tentativa de apresentar os princípios organizadores do curso da vida, a autora apresenta os seguintes conceitos:

Idade Cronológica: Tempo contado cronologicamente a partir do nascimento do indivíduo. Sistema de datação importante para o exercício da cidadania nas sociedades ocidentais, visto que regula determinados direitos e obrigações, define papéis ocupacionais e serve como base para reivindicações sociais. É um instrumento de controle que o Estado tem para controlar diretamente a vida dos indivíduos, dividindo a vida em etapas como a idade em que se deve entrar para a escola, idade para o serviço militar obrigatório, para votar, para se aposentar, etc.

Idade Geracional: Independe da idade cronológica ou do nível de maturidade e pode ser vista de duas maneiras:

1. No âmbito familiar, representa a sucessão de um grupo por outro, estabelecendo as relações de parentesco;
2. No âmbito social, representa um grupo de indivíduos que compartilharam das mesmas experiências e possuem comportamento semelhante.

Nível de Maturidade: É a capacidade que um indivíduo tem de desenvolver determinadas atividades, está relacionado ao desenvolvimento intelectual. Não se leva em conta a idade cronológica ou a geracional. Por isso, indivíduos com a mesma idade cronológica podem apresentar diferentes níveis de maturidade, e o inverso também é possível.

Uma análise do filme Garotas do Calendário

Baseado em fatos reais, o filme Garotas do calendário retrata a história de duas amigas inseparáveis, Chris (Helen Mirren) e Annie (Julie Walters), moradoras de uma pequena cidade conservadora da Inglaterra. Chris é membro do Women's Institute, cujo lema é informação, diversão e amizade, uma associação nacional com reuniões mensais que desenvolve atividades para senhoras, como jardinagem, tricô ou a preparação de doces e bolos.

O marido de Annie morre de leucemia e ela resolve se juntar ao grupo, na tentativa de angariar fundos para ajudar o hospital da cidade. Chris desenvolve uma campanha que consiste em fazer um calendário com uma integrante do Women's Institute para cada mês, mostrando algo relacionado a suas habilidades domésticas. Essa ideia mexeu com a cidadezinha inglesa, visto que, segundo a proposta de Chris, as senhoras deveriam aparecer completamente nuas nas fotos.

Esse filme é uma boa fonte de discussão sobre idade cronológica, idade geracional e nível de maturidade. Por meio dele podem-se perceber expectativas e preconceitos que as sociedades têm em relação a mulheres com idade cronológica avançada.

Visto isso, é importante salientar que as expectativas e os preconceitos difundidos variam de acordo com a época e com o grupo social, em relação a homens e a mulheres, em relação à idade cronológica e em relação ao nível de maturidade dos indivíduos. Com base no texto Antropologia e o estudo dos grupos sociais e das categorias de idade, de Guita Grin Debret, serão analisados, minimamente, os fatores que causaram tamanha estranheza para os habitantes daquela pequena cidade.

Inicialmente, alguém poderia pensar que os moradores de Knapely, a cidadezinha em questão, achavam extremamente vulgar a atitude de uma mulher deixar-se fotografar nua para um calendário, mas ao longo do filme isso se modifica. De acordo com a tradição, o instituto fazia calendários com fotos de bolos. A ideia do calendário com fotos de senhoras nuas surgiu quando uma delas entrou em uma oficina e viu fotos de mulheres nuas nas paredes. Além disso, há uma cena em que uma das senhoras acha uma revista masculina que seu filho esconde em baixo da cama. Ou seja, a imagem de uma mulher nua na parede ou em uma revista, desde que seja uma desconhecida, não feria a moral da comunidade.

A idade das mulheres que se dispuseram a tirar as fotos também foi um fator decisivo para dar início ao preconceito e às especulações. Implicitamente, os padrões estéticos estipulam que somente mulheres jovens e com corpos esculturais podem tirar fotos nuas. Além disso, fotos nuas são associadas à sexualidade ativa, e a sociedade não aceita que mulheres mais velhas tenham esse comportamento. Entretanto, a proposta das fotos não era nada obscena. Assim, as pessoas perceberiam que as mulheres estavam nuas, mas nem os seios nem as genitálias ficariam à mostra.

Entende-se, com esse filme, que homens e mulheres são vistos diferentemente em relação à idade e às práticas sexuais. É socialmente admissível que um senhor tenha vida sexual ativa e se relacione com uma mulher com idade para ser sua filha, mas às mulheres não é outorgado esse direito. O preconceito traveste-se de preocupação e as poucas que tentam esse tipo de relacionamento são desestimuladas, principalmente pela família, sob o pretexto de que não existe amor verdadeiro por parte do homem mais novo, mas um interesse, geralmente, financeiro. Tal argumento não poderia ser utilizado no caso dos homens mais velhos?

Com o avanço da idade cronológica, uma pessoa pode, legalmente, ser impedida ou deixar de ser obrigada a praticar certos atos ligados à cidadania. Por força da lei, idosos precisam se aposentar com certa idade e são desobrigados de votar, por exemplo. Entretanto, há certas restrições implícitas que foram criadas por conceitos e preconceitos subjetivos em vigor nas diferentes sociedades. Na situação mostrada pelo filme, os moradores faziam parte de uma geração que acreditava na possibilidade de as fotos mancharem a moral das senhoras e que não tinham maturidade suficiente para entender o propósito do calendário e o tipo de fotos que seriam feitas.

Conclui-se este trabalho observando que no filme em questão pode-se perceber a forma como algumas senhoras de uma sociedade conservadora conseguiram superar as barreiras e vencer os preconceitos de sua comunidade. A idade cronológica e o nível de maturidade delas não foram suficientes para que seus concidadãos aceitassem com naturalidade sua decisão. A atitude delas pode ter sido um ponto de partida para a transformação das mentalidades daquele grupo, fazendo com que ele participasse dessa nova experiência, abalando os costumes daquela geração.

Bibliografia

DEBRET, Guita Grin. Antropologia e o estudo dos grupos sociais e das categorias de idade In: Velhice ou terceira idade?: estudos antropológicos sobre identidade, memória e política. 2. ed. Editora FGV, Rio de Janeiro, 2000.

Ficha Técnica

CALENDAR GIRLS = Garotas do calendário. Direção: Nigel Cole. Elenco: Helen Mirren; John Alderton; Linda Bassett; Annette Crosbie; Philip Glenister; Ciarán Hinds; Celia Imrie; Geraldine James; Jay Leno; Julie Walters; Penelope Wilton. Inglaterra: Buena Vista International / Touchstone Pictures, 2003. 108 min., son., color.