quinta-feira, 2 de outubro de 2008

A maior caridade do mundo

Hoje pela manhã recebi mais um daqueles e-mails que supõem apresentar a informação mais importante de nossa existência. Nem sempre tenho paciência para lê-los, mas, como fora enviado por um grande amigo da faculdade, achei que poderia ser interessante. O e-mail tinha “A vida de um bilionário” como título e falava sobre a vida de Warren Edward Buffet, um norte-americano com fortuna estimada em 62 bilhões de dólares, considerado o homem mais rico do mundo pela revista Forbes em 2008.

Warren Buffett nasceu no estado de Nebraska em 1930. É filho de Howard Buffett, corretor da bolsa e membro do Congresso americano, e neto de comerciantes. Estudou na Universidade da Califórnia e é mestre em Economia pela Escola de Negócios de Colúmbia. Apesar de sua fortuna e do faro para os negócios, Buffet é conhecido por sua vida relativamente simples e por sua grande generosidade. Ele vive na mesma casa que comprou por 31.500 dólares em 1958, em um bairro de Omaha, embora possua uma mansão na Califórnia.

Quando questionado sobre o destino de sua fortuna, disse que deixaria para os três filhos apenas o suficiente para que fizessem o que quisessem, mas não muito, a ponto de não precisarem fazer nada. Em meados de 2006, Buffet comprometeu-se a doar 85% de sua riqueza para a Fundação Bill e Melinda Gates, que é a maior fundação de caridade do mundo. Criada em 2000, com sede em Washington, tem como objetivo a melhoria da condição de vida e a luta contra a pobreza.

O gesto de desprendimento do mui generoso investidor ficou conhecido como o maior ato de caridade de todos os tempos. Sem dúvida é uma louvável atitude que, se bem administrada, pode beneficiar muitas pessoas. Entretanto, os 15% restantes equivalem a uma invejável fortuna. Nem o filantropo, nem seus filhos e netos passarão dificuldades financeiras por terem perdido o valor da doação. Essa história fez-me lembrar de uma outra mais antiga que fala sobre uma viúva que não doou 85%, mas 100% do que tinha.

Acredito que a história bíblica da viúva pobre seja do conhecimento de muitos. Apesar de sua antigüidade, ela é uma boa reflexão sobre a generosidade e o desprendimento.

“E, estando Jesus assentado defronte da arca do tesouro, observava a maneira como a multidão lançava o dinheiro na arca do tesouro; e muitos ricos deitavam muito.

Vindo, porém, uma pobre viúva, deitou duas pequenas moedas, que valiam meio centavo.

E, chamando os seus discípulos, disse-lhes: Em verdade vos digo que esta pobre viúva deitou mais do que todos os que deitaram na arca do tesouro;

Porque todos ali deitaram do que lhes sobrava, mas esta, da sua pobreza, deitou tudo o que tinha, todo o seu sustento.” (Evangelho de S. Marcos, capítulo 12, versos 41 – 44).

Em hipótese alguma quero desmerecer o gesto de Buffett, mas, diferentemente do que aconteceu com a viúva citada nas passagens bíblicas, ele não deu tudo o que tinha, mas uma parte que não lhe faria grande falta e não seria imprescindível para seu sustento.

O americano fez o que poucos fariam, mas seguiu a lógica da maioria: não damos aos outros as coisas de que precisamos. Damos o que não queremos mais e o que está sobrando. Isso pode ser comprovado, por exemplo, em bazares que vendem objetos cuja renda seja revertida para os pobres. Encontramos roupas queimadas, manchadas ou sem botão; sapatos com solado ruim e sem cadarços; quadros e móveis danificados, livros obsoletos, etc.

Iludimo-nos ao pensar que aquilo não serve para nós, mas pode ser utilíssimo para outras pessoas. Massageamos nossa consciência e entulhamos a casa de quem, talvez, tenha sido mais generoso que nós, comprando algo que não servirá para nada. Nossa lógica/mesquinhez funciona mais rapidamente quando sabemos que o abjeto usado irá diretamente para um necessitado. Como diz o velho ditado: “A cavalo dado não se olham os dentes”... O raciocínio mais ético e religioso deveria ser o seguinte: não se dá aos outros o que não gostaríamos de receber.

Certa vez ouvi uma atriz dizer que seu guarda-roupa sempre tem o mesmo número de peças. Ela tira uma peça antiga equivalente toda vez que compra uma bolsa, camisa ou sapato e dá para alguém mais pobre. Devemos tomar cuidado para que nossa generosidade não seja instrumento de propaganda pessoal. “Que tua mão esquerda não saiba o que a direita fez...”.

Realmente é muito difícil abrir mão daquilo que nos é necessário para dar a alguém. Reconheço que faço parte dos que estão mais preocupados com seu bem-estar e depois, dependendo das conveniências, com o do próximo. A caridade não pode ser associada ao orgulho ou à obrigação, tampouco deve ser medida pela quantidade de reais ou dólares que se dá, mas pela boa intensão e pela qualidade.

No mundo moderno em que a individualidade destrói o que é coletivo, atitudes como a de Warren Buffett são louvabilíssimas e merecem ser repetidas, mas, dentre as histórias conhecidas relacionadas ao tema caridade, a que fala mais forte ao meu coração é a da viúva pobre, que era rica porque teve o desprendimento de dar suas últimas duas moedas.

Não poupemos o que podemos doar ao próximo e que possa ser útil, sejam socorros financeiros, sentimentais ou espirituais, dos quais os últimos não têm preço.