sexta-feira, 21 de maio de 2010

A culpa não foi da Eva

Tenho refletido nesses últimos dias que a vida em sociedade se torna cada vez mais difícil à medida que o indivíduo se esquece de suas responsabilidades e as atribui ao outro. Desde o começo da humanidade, a história é a mesma. Lembremos do que ocorreu no Jardim do Éden: alguém recebeu uma responsabilidade, não a desempenhou como deveria e, quando foi cobrado, atribuiu culpa à pessoa mais próxima.

Deus confiou a Adão, primeiro representante da obra-prima de Sua criação, a incumbência de crescer, frutificar e cuidar do jardim. Sobre tudo teria domínio, de tudo poderia comer, exceto do fruto da árvore que lhe daria conhecimento do bem e do mal. Além de todos os benefícios oferecidos, Adão ganhou uma companheira, Eva, para que não se sentisse muito só no Jardim das Delícias.

Certo dia, no horário de costume, o Criador perguntou a Adão se ele tinha comido do fruto proibido. Adão respondeu conforme sua conveniência e disse: “A mulher que me deste por companheira, ela me deu da árvore, e comi”. Eva, por sua vez, disse que a serpente, a mais astuta de todos os animais terrestres, tinha-lhe oferecido o fruto, e ela comeu. Como a serpente não conseguiu se defender, passou a representar o mal.

Comportamentos semelhantes ao descrito acima são encontrados a todo momento. Pessoas gostam de poder, benefícios, companhia, mas não gostam de assumir responsabilidades. Percebe-se que a insubordinação e o individualismo destroem relacionamentos sociais e profissionais, além das próprias pessoas em longo prazo.

Atribuir a si próprio a responsabilidade de resolver problemas, achar soluções e auxiliar o próximo não é tarefa fácil, mas é uma maneira segura de resolver problemas que se arrastam na sociedade há anos. Nem sempre a culpa é do outro. E nesse engano seguem ideologias que atribuem ao carma a origem de insatisfações e desventuras. Muitas vezes somos os únicos responsáveis por insucessos, mas somos incapazes de admitir o fracasso.

Levando-se em consideração que o homem é um ser dotado de raciocínio, apesar de saber que alguns não gostam de raciocinar, é comum que se questionem normas e regulamentos estabelecidos pela sociedade, porém a simples ignorância não tem o poder de alterar uma realidade estabelecida. Deve-se questionar tudo aquilo com que não se concorda, de forma lógica e convincente, buscando a melhor maneira de se adaptar ao sistema do qual se faz parte, a não ser que se queira viver sozinho na lua.

Há uma máxima que diz que as regras existem para serem quebradas. Será isso adequado? Um pouco desse pensamento se deve à cultura do indivíduo, haja vista os exemplos de povos europeus ou asiáticos que se orgulham de cumprirem o que foi estabelecido para o benefício da coletividade. Nessas sociedades, o coletivo se sobrepõe ao pessoal e os interesses coletivos acabam conduzindo os interesses individuais. Não se está afirmando que esse modelo social seja ideal, mas se reconhece que essas sociedades têm apresentado melhores resultados socioeconômicos e melhores índices de satisfação ou qualidade de vida que outras.

Quando alguém assume uma postura ativa na vida, especialmente na resolução de problemas, a tendência é que se pare de culpar o outro e se apresente uma saída para que ele ou ela não erre mais. Quando reconhecemos nossos erros, temos a oportunidade de transformar nosso comportamento e mudar o ambiente em que vivemos. Aprender com os erros, nossos e dos outros, é positivo no sentido de fazer com que a vida seja melhor. Devemos reconhecer nossos erros, cada um o seu, e ajudar naquilo que for possível. Lembrar que a culpa não foi da Eva faz de cada Adão um ser mais consciente.