segunda-feira, 1 de março de 2010

Língua Latina e Língua Portuguesa: Analogias e Contrastes III

“Para se saber sintaxe, deve-se conhecer bem a morfologia”. Com essas palavras, a professora Flora iniciou sua aula do dia 27/02/2010, observando que Fonologia + Morfologia + Sintaxe = Gramática. Inicialmente far-se-á uma revisão da morfologia com análise sintática de frases simples, e só depois, quando a sintaxe for estudada, é que se analisarão frases mais complexas. Os principais tópicos abordados nesse dia foram: sujeito, complemento nominal com a preposição de, objeto indireto com as preposições a e para, objeto direto e verbos de ligação.

A primeira frase analisada nesse dia foi O livro de Maria é interessante , em que o O é um adjunto adnominal do sujeito; livro é o núcleo do sujeito; de Maria pode ser um complemento nominal ou um adjunto adnominal preposicionado, considerando que Maria pode ser autora, leitora, portadora ou proprietária do livro. Fez-se questão de nomear de Maria como um adjunto adnominal preposicionado, para diferenciá-lo de um adjunto adnominal formado por um adjetivo, como em interessante.

Ressalta-se que não é simples a diferenciação entre adjunto adnominal e complemento nominal. Em certos casos, por ser a frase ambígua, faz-se necessário que se entenda o real significado para uma análise adequada, como no exemplo A resposta do aluno foi satisfatória. Caso se interprete a frase como “O aluno respondeu”, do aluno será um adjunto adnominal. Caso se interprete a frase como “O aluno foi respondido”, do aluno será um complemento nominal. Para se escrever bem uma redação, com lógica e concatenação de ideias, devem-se conhecer os instrumentos da morfossintaxe.

O exemplo O livro do meu menino é interessante trata da diferente classificação que o Latim tem para o vocábulo meu. Em Português, meu é classificado morfologicamente como um pronome possessivo; do menino é um adjunto adnominal preposicionado ou um complemento nominal. Em Latim, meu é um adjetivo possessivo, visto que acompanha o substantivo. No exemplo O livro do meu menino é ruim, mas o teu é interessante,o vocábulo teu é um pronome possessivo em Latim, visto que substitui o substantivo livro.

Em certo momento, a professora pediu que seus alunos citassem exemplos de frases com objeto indireto. Os exemplos foram: 1) Necessito de uma nova gramática; 2) Preciso de sua ajuda; 3) Gosto de teu vestido; 4) Comprei flores para minha mãe e 4) Entreguei o livro ao Paulo. Para a maior parte dos gramáticos brasileiros, “de uma nova gramática”, “de sua ajuda” e “de teu vestido” tratam-se de objetos indiretos, com exceção de Bechara, que os vê como complementos relativos, visto que não podem ser substituídos pelo pronome oblíquo lhe. Segundo a gramática latina, dos cinco exemplos citados acima, os verdadeiros objetos indiretos são “à pátria” e “ao menino”, por serem os seres a quem se destina a ação verbal.

Semelhantemente, nos exemplos 1) Eu sou útil à pátria e 2) Agi contrariamente às regras, tem-se objetos indiretos em “à pátria” e “às regras”. Em Português, à pátria e às regras são complementos nominais. Já no exemplo Eu falo de você, tem-se em de você um objeto indireto do Português, mas um adjunto adverbial de argumento do Latim.

Ao término da aula, fez-se uma lista dos verbos de ligação e em seguida analisaram-se frases em que esses mesmos verbos têm outra transitividade, como se vê nos exemplos seguintes. Em João ficou em Roma, o verbo ficou, que tradicionalmente é de ligação aparece como intransitivo. Observou-se que em Latim não há tantos verbos de ligação como em Português. Apenas o verbo sum, es, esse, fui, que pode ser traduzido como ser, estar, haver, existir ou morar é de ligação em Latim.

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