quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Planejamento do Ensino em uma Perspectiva Crítica de Educação

O texto Planejamento do Ensino numa Perspectiva Crítica de Educação, escrito por Antonia Osima Lopes*, aborda o processo de planejamento de ensino na prática pedagógica atual e questiona a eficácia dele como instrumento que ajuda o professor a melhorar sua prática docente.

Baseada em sua experiência no cotidiano escolar, a autora afirma que os objetivos propostos pelas instituições de ensino são pouco claros e dissociados da realidade social dos alunos. Além disso, observa que os conteúdos definidos são autoritários, considerando que dificilmente professores e alunos fazem parte desse processo.

Antonia Lopes salienta que normalmente, nas salas de aula, há predominância de atividades que abrem pouco ou nenhum espaço para a participação dos alunos, ignorando a criatividade, que é fundamental para a reconstrução do conhecimento. Em ambientes como esse, a avaliação não passa de um processo que visa a avaliar quanto o aluno aprendeu e não o que ou como ele aprendeu. Um planejamento alijado da realidade social transfigura-se em atividade automática e burocracial do corpo docente, que em nada contribui para o aperfeiçoamento da prática pedagógica.

Em uma concepção transformadora, o planejamento escolar deve assumir uma postura crítica em relação à educação, evitando a produção de um documento de caráter meramente tecnicista. Freire (2009, p. 38) afirma que “A prática docente crítica, implicante do pensar certo, envolve o movimento dinâmico, dialético, entre o fazer e o pensar sobre o fazer”.

Diante disso, vê-se que o processo de planejamento de ensino deve ser reformulado, de forma que se tenha uma ação pedagógica crítica e transformadora. Assim, o professor terá maior segurança para lidar com as dificuldades da sala de aula e definirá o que é essencial do que é secundário na relação ensino-aprendizagem.

A escola é o local em que se oferecem os conhecimentos acumulados ao longo do tempo, mas não se deve ignorar o conhecimento extraclasse ou acreditar que os conhecimentos acumulados são imutáveis. Se por um lado o aluno precisa conhecer a cultura acumulada, por outro, deve ter condição de produzir novos saberes, valorizando a dinamicidade do conhecimento.

Como alternativa para se reverter o quadro exposto acima, a autora sugere que as atividades educativas deveriam ser desenvolvidas a partir da realidade e das necessidades dos alunos. Assim seria possível tornar a sociedade mais justa, oferecendo aos indivíduos o conhecimento de que eles precisam realmente e exercitando o papel transformador da educação.

De fato, um planejamento escolar efetivamente participativo depende da integração entre escola e realidade, teoria e prática, visto que não deveriam existir planejamentos sem a participação dos envolvidos em todo o processo educacional. Essa integração deveria começar com o estudo real da escola com o contexto social em que ela se insere. Na verdade, conhecer o aluno é a melhor maneira de customizar o ensino oferecido.

Depois de diagnosticar interesses e necessidades do aluno, devem-se definir os objetivos, sistematizar os conteúdos e selecionar os procedimentos que serão aplicados. O ensino eficaz faz mais que transferir conhecimento. Valoriza a transformação do educando, de forma que este possa refletir criticamente, exercitando a criatividade, o espírito investigativo e a criatividade – atividades fundamentais para a vida em sociedade.

Em um terceiro momento, o professor deve articular uma metodologia de ensino que valorize a participação e a reflexão dos alunos. Nesse contexto, o mestre não deve se preocupar com a quantidade de conteúdo aprendido, mas com a qualidade da reestruturação e produção de conhecimento de cada um. Ressalta-se que essas etapas não devem ser vistas isoladamente, mas como partes interligadas de um planejamento integrador.

O texto resenhado mostra que o professor deve assumir uma postura pedagógica e social, para que se adapte às demandas atuais. Além disso, o planejamento participativo exige que não haja divisão de trabalho pedagógico, ou seja, todos devem se sentir responsáveis por todo o processo educativo, cada um contribuindo conforme suas possibilidades.

Conclui-se que a visão de planejamento escolar apresentada no texto em questão não pode ser entendida como uma atividade neutra. Portanto, o professor deve priorizar a transformação e o exercício da criticidade do aluno, e o planejamento ideal não deve ser feito isoladamente, mas com a participação de todos, inclusive do aluno. Essas podem não ser tarefas fáceis, mas são necessárias, caso se queira elevar a qualidade do ensino e fazer dos alunos pessoas críticas e capazes de construir e reconstruir o mundo em que vive.


* Professora da Universidade Federal do Piauí (UFPI) e mestre em Educação pela UNICAMP.

Bibliografia

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 2009.
LOPES, Antonia Osima [et al.]. Planejamento do ensino numa perspectiva crítica de educação. Campinas, SP: Papirus, 1989.